Nesta década, declarações de saída definitiva feitas à Receita Federal quase triplicaram. Fatores econômicos, políticos e culturais são as explicações
Cada vez mais, os brasileiros saem do Brasil com a propósito de não voltar mais. Essa tendência, que vem se elevando ano após ano, foi registrado pela Receita Federal.
Em 2011, o órgão apontou a saída definitiva de 8.170 pessoas. Em 2017, pelo menos 21.701 saídas definitivas foram registradas — um crescimento de 165%.
O número de pessoas que não têm residência fixa no Brasil pode ser ainda maior, visto que a saída definitiva não contabiliza as crianças que se mudaram para outros países com os seus responsáveis e outros integrantes da família que possivelmente não declarem Imposto de Renda.
A saída definitiva é um registro feito pela Receita Federal em que o cidadão declara que não possui mais nenhuma renda no Brasil e que vai fixar residência em outro país.
O advogado Daniel Toledo, profissional em Direito Internacional, considera que a solicitação da saída definitiva não representa que a pessoa deixa de ser brasileira ou automaticamente vá adquirir a cidadania do país onde vai residir são processos diferentes.
O próprio Toledo solicitou a saída definitiva quando foi morar nos Estados Unidos. Conforme o advogado, essa é uma medida para evitar a bitributação, ou seja, a cobrança do Imposto de Renda nos dois países.
Para o professor de Relações Internacionais da Uerj, Maurício Santoro, esse desejo cada vez maior de sair do Brasil não pode ser explicado apenas por um elemento
Ele cita pelo menos 3 possibilidades: crise financeira instabilidade política e insegurança trazendo medo a população.
“Não é só [a questão da] economia, não é só fato de o país estar vivenciando um período de desemprego alto. É um sentimento mais amplo que isso, de preocupação com o Brasil e de desesperança”, diz o professor.
Estimativas são maiores
O número de brasileiros que cortam todos os relações com o Brasil é apenas um pequeno percentual dos que saem do o Brasil para viver no exterior.
Conforme estimativas feitas pelo Itamaraty, cerca de 3 milhões brasileiros estão habitando em outros lugares do mundo temporariamente para trabalhar ou estudar.
O Itamaraty não é responsável por registrar os brasileiros que estão no exterior, portanto é possível que esse número seja ainda maior, já que não leva em consideração os imigrantes brasileiros em situação irregular.
Efeito Trump
Para Toledo, esse crescimento de brasileiros que sonham morar definitivamente em outros países é uma mudança de perfil.
Nos Estados Unidos, país que ainda é o mais procurado pelos brasileiros que anseiam viver no exterior, a presidência de Donald Trump teve alguns impactos, O advogado declarou que agora já não é tão simples para um imigrante conseguir empregos.
“Não é muito comum que as pessoas venham hoje para os Estados Unidos buscando trabalho elas vêm querendo empreender”, diz ele, referindo-se às imigrações legais.
No entanto o professor alerta que pode ser alarmante o fato de o Brasil, na grande parte dos casos, não ser mais um país atrativo para investidores e pesquisadores.
Já Santoro acredita que para além da economia, outro motivo essencial para que brasileiros escolham morar nos EUA e em Portugal — outro país muito escolhido — é a questão cultural.
“Os dois países têm uma cultura parecida com a brasileira, o que favorece a adaptação, além de serem receptivos a imigrantes.”
O êxodo científico
Conforme uma pesquisa do Datafolha apresentada em maio deste ano, 43% da população adulta deixaria o Brasil se fosse possível.
Dentre os jovens de 16 a 24, a vontade de sair do país é um desejo da maioria: 62% têm interesse de ir para outros países.
Nesses casos, no entanto, a vontade desses jovens é de estudar nas universidades conceituadas no ambiente internacional.
Santoro destaca que esse não é um problema para o país a longo período e a circulação de conhecimento é uma tendência da globalização.
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