Cientistas usaram um modelo que recorre a inteligência artificial para prever a evolução do novo coronavírus, no mundo e em território nacional.
Um grupo de cientistas chineses e americanos estimam que o pico do surto de Covid-19, em território nacional, será atingido a 23 de março, segunda-feira, com o registo de 205 novos casos nesse dia. Apontam, também, que o controlo da epidemia poderá ter lugar no início do mês de maio, somando-se, nessa altura, 2 655 casos confirmados de infeção.
Os dados foram enviados ao jornal ‘Público’ por Momiao Xiong, um dos investigadores do Departamento de Bioestatística na Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas, em Houston, nos Estados Unidos, que faz parte de um grupo de chineses e americanos que fizeram um estudo para prever a evolução da pandemia, com o objetivo de observar o comportamento do vírus, avaliando o “efeito da intervenção de saúde pública na trajetória da disseminação global”. O trabalho tem por base um método que recorre a inteligência artificial.
Nesse sentido, Momiao Xiong explica a importância de uma “intervenção ativa de saúde pública” (encerramento de lojas, dever de permanecer em casa, encerramento de escolas) no controlo da epidemia: em Portugal, se a ação de saúde pública só arrancasse na próxima segunda-feira, teríamos um pico a 30 de março e um total de 14 825 casos, com o controlo do surto anunciado para 2 de junho. Por fim, se a intervenção apenas começasse a 30 de março, o pico seria a 3 de abril e o total de casos chegaria aos 59 674, a 22 de junho. Isto significa que, quanto mais tarde forem tomadas medidas para conter a propagação do vírus, mais tarde vai ser possível dominar a doença.
Os dados relativos a Portugal têm como ponto de partida os casos confirmados esta segunda-feira, dia 16 de março, e presumiram que a intervenção ativa de saúde pública entraria em vigor a 17 de março, apesar de ter entrado a 16, com o encerramento das escolas.
A abordagem da investigação, que prevê o futuro do vírus em muitos países do mundo, quer responder a duas questões importantes. Por um lado, se é preciso, ou não, uma intervenção abrangente não medicamentosa em saúde pública; por outro lado, qual a importância do tempo de intervenção. Os cientistas não têm dúvidas: “A nossa análise mostra que as intervenções de saúde pública devem ser executadas o mais cedo possível”.
A nível mundial, os autores da investigação revelam que um atraso de quatro semanas na adoção de medidas de proteção causaria um número muito mais elevado de mortes e fazia com que o surto só conseguisse estar controlado a 22 de agosto. Com uma intervenção ativa, o número total de casos no mundo pode ser reduzido em 94,6% e o tempo de duração do surto é reduzido de 215 dias para 157 dias.
Os dados do artigo vão ficando desatualizados, mas a conclusão mais importante é que é “extremamente importante” achatar a curva com uma intervenção ativa de saúde pública.