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Covid-19: Brasileiros em Portugal entre o desemprego e o medo de serem despejados

O testemunho de quem já recebeu um aviso de despejo.

Brasileiros que moram em Portugal procuram grupos nas redes sociais para denunciar despedimentos e o medo de despejos com a paralisação da economia portuguesa e o avanço do novo coronavírus.

Num grupo na rede social Facebook chamado Brasileiros em Portugal, com mais de 350 mil integrantes, a decisão do Parlamento de suspender denúncias de contratos de arrendamento e despejos ganhou destaque entre mensagens e relatos de brasileiros que diziam ter sido demitidos e receberam avisos para deixar imóveis arrendados onde moram em Portugal.

Nicolle Ravena, que vive no Porto, disse à Lusa que foi demitida de um restaurante onde trabalhava e quando disse à sua senhoria o que se passou recebeu imediatamente um aviso informal de despejo.

“Mandei uma mensagem para a dona do imóvel onde moro para contar que o restaurante onde trabalhava fechou por tempo indeterminado. O contrato de aluguel está em nome de outra pessoa e quis informar estes problemas porque não sabia direito o que fazer. A dona do imóvel me mandou sair até 1 de abril”, disse a imigrante brasileira.

“Se não conseguir fazer o pagamento até o dia 1 de abril, ela (senhoria) disse-me que terei de sair do apartamento. Eu mandei a ela uma reportagem sobre a nova lei que impede temporariamente os despejos, mas ela respondeu estar no seu direito e, como o contrato de arrendamento não está no meu nome não sei o que fazer porque não tenho dinheiro para mudar ou comprar uma passagem de volta ao Brasil”, acrescentou.

Carolina Leitão Chilinque, outra brasileira que vive em Lisboa com o marido e um filho de seis anos, disse ter lido nas redes sociais dezenas de relatos de pessoas cujos senhorios simplesmente pediram o imóvel até o fim do mês.

“E vão para onde? Como vão pagar pela casa nova?”, questionou.

“Meus melhores amigos estão quase sem comida em casa porque foram dispensados do trabalho e têm um filho de nove anos. Tenho familiares que há quatro meses solicitaram repatriação via embaixada e não temos nem notícia deles já que (eles) não têm mais número de telemóvel”, completou.

Outra pessoa que já sentiu o impacto do novo coronavirus na economia e no mercado laboral é a brasileira Márcia Regina dos Santos.

“Com esta história do coronavírus o lugar em que trabalhava fechou. Eu trabalhava em um café em Lisboa, vivo em Barreiro, na região de Setúbal. O café fechou, todos fomos demitidos porque o proprietário já prevê que haverá crise económica e ele não terá como pagar salários e as despesas”, disse.

REGRESSO AO BRASIL PODE SER A ÚNICA HIPÓTESE

Márcia Regina dos Santos mudou-se duas vezes para Portugal. Ela disse que regressou ao país há três anos, mas talvez tenha de regressar ao Brasil porque vive numa casa arrendada e tem medo de não ter dinheiro para pagar suas contas.

Leia também: Comprar casa em Portugal vale à pena?

“A minha senhoria ainda não tocou no assunto, não falou nada, mas todos estamos com medo de não ter dinheiro para pagar o aluguel, a luz, a água. Até agora o Governo não fez nada, o que eles fizeram foi fechar o comércio”, explicou.

“Já tivemos uma crise entre 2009 e o ano de 2010. O país ficou em uma situação complicada, mas conseguiu se reerguer. Agora o problema é mundial, o problema não está só aqui. Portugal é um país pequenino e para sair desta crise será difícil. Ouço muitos brasileiros dizendo que vão voltar para trás (para o Brasil) porque o que nos segurava aqui era a questão da segurança, da saúde. O resto é muito semelhante ao Brasil. Ganha-se pouco e mata-se um leão por dia para sobreviver”, concluiu.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, foi detetado em dezembro na China e já infetou mais de 308.000 pessoas em todo o mundo, das quais mais de 13.400 morreram.

O continente europeu é atualmente aquele com o maior número de casos, sendo Itália o país com maior número de vítimas mortais em todo o mundo. Regista 4.825 mortos em 53.578 diagnósticos positivos e, desses infetados, 6.062 já foram dados como curados pelas autoridades.

Os países mais afetados depois de Itália e China são: Espanha, com 1.720 óbitos em 28.572 infeções; Irão, com 1.556 mortes entre 20.610 casos; França, com 562 vítimas mortais em 14.459 diagnosticados; e os Estados Unidos da América, com 340 mortes em 26.747 infetados.

Via SIC Notícias