As magistraturas são das carreiras mais bem pagas da Administração Pública, com os salários a começar nos 3000 euros para quem está no início de carreira. Apesar disso, os candidatos que pretendem tentar o acesso às carreiras de juízes e procurador são cada vez menos, o que fez com que num espaço de cinco anos, por duas vezes o Estado não tivesse conseguido recrutar o número de magistrados que pretendia, revelou o Público.
A publicação revela que se em 2010 houve 1704 pessoas a candidatar-se aos dois concursos de acesso às magistraturas, um para os tribunais comuns com 120 vagas e outro para os administrativos e fiscais com 45 lugares, este ano os mesmos dois concursos (ainda que com 135 vagas) só tiveram 555 candidatos.
Um valor três vezes inferior. O ano passado a contabilidade não foi melhor. Só foi lançado um concurso de acesso aos tribunais comuns, com 52 vagas para juízes e outras tantas para procuradores, ao qual se apresentaram 459 candidatos.
Patrícia Costa, diretora adjunta do CEJ, revela que a diminuição de candidatos não está a acontecer só em Portugal e o fenómeno repete-se em Espanha e em França. A falta da flexibilidade e a exigência de exclusividade serão dois dos factores que explicam a falta de jovens interessados nas magistraturas.
Adão Carvalho, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP), sugere ao Público que as prioridades dos jovens mudaram e que agora valorizam mais a sua qualidade de vida e o tempo livre em vez de um salário mais alto.
«Os jovens relativizam o valor do trabalho. É uma característica da cultura ocidental. O investimento no trabalho já não se faz incondicionalmente», revelou Joaquim Coimbra, professor na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, que estuda a orientação vocacional dos jovens e as relações com o trabalho.
Dentro da área do Direito, empregos como a advocacia conotada, que são mais independentes e autónomos, acabaram por ser mais atractivos para os jovens, mesmo que paguem menos.
Este não é o único emprego que está a ser rejeitado pelos mais jovens. Vários serviços de espionagem estão a relatar dificuldades em contratar a Geração Z, que é adepta do teletrabalho, de horários flexíveis e de usar o telemóvel pessoal no emprego, todos desejos incompatíveis com os requisitos das agências de inteligência.